Capacidade de Discernimento Frente aos Fatos do Cotidiano, na Vida Social, na Vida Profissional

Para uma população que estuda pouco, que muitas vezes estuda errado, que se adianta em tomar partido sem propriedade de causa, etc., nós, inseridos neste cenário, temos que ter um pouco mais o pé no chão para analisarmos, opinarmos e decidirmos sobre qualquer assunto de natureza social, econômica, financeira, política, EMPRESARIAL, etc., etc., etc., enfim, sobre qualquer assunto de real valor para o indivíduo e para a sociedade. Dito isso, comento em especial sobre o quanto são fáceis a manipulação e o direcionamento condicionado para discussões que não temos propriedade alguma para criticar e votar, mas que sequer percebemos isso: neste momento – julho de 2015 – estamos em meio a forte discussão sobre maioridade penal e o que mais tem surgido são especialistas, de ambos os lados, aqueles favoráveis e aqueles desfavoráveis à redução da maioridade penal.

Façamos algumas perguntas, para nos certificarmos que sabemos do que estamos falando:

  • Quais os graus diferenciados de discernimento existentes entre faixas etárias que vão de 14 a 35 anos de idade, ao falarmos em risco e oportunidade, em certo e errado, dentre outras dicotomias, as quais, direta ou indiretamente, possuem relação com a maneira como estabelecemos as punições para os diferentes tipos de crime?
  • Outra pergunta: Por que 18 anos, ou por que 16 anos? Por que não 20 anos?
  • E mais uma pergunta: Qual a diferença de discernimento, por exemplo, entre alguém com 17 anos e 11 meses de idade, em comparação a alguém com 18 anos e 1 mês?
  • Outra: Sabemos julgar – e deveríamos ou não diferenciar – o julgamento entre crimes por necessidade, dos crimes por desvio mental? Em caso afirmativo, quais seriam as regras? Somos capazes realmente de estabelece-las?
  • E só para fechar: temos acesso às pesquisas que nos respondam questionamentos assim? Há uma estatística confiável sobre o assunto e que já tenha sido compartilhada à população, para facilitar as opiniões? Ah, é mesmo, nosso país ainda não tem um sistema tão efetivo assim de envolvimento da população nas discussões de interesse geral. Perceba: a conversa entre povo e governo ou é unilateral, ou uma típica conversa de bêbado e delegado: ficamos de um lado opinando entre nós (acho que estamos no papel do bêbado), enquanto que os representantes do governo ficam do outro lado, efetivamente votando (acho que no papel do delegado, certo?).

Dá para perceber o quanto nos aventuramos e nos enganamos fácil em qualquer tipo de discussão, principalmente em discussões polêmicas. Isto acontece com outros assuntos batidos pela mídia, como, por exemplo, os royalties do pré-sal destinados à educação e à saúde (poucos sabem, mas esses royalties equivalem a pouco mais de 5% do que o país já vem gastando com a educação, ou seja, certamente não são a solução para o problema da educação em nosso país). Outro assunto: a medida de lei que melhor regulamenta a terceirização de mão-de-obra. Falaremos deste assunto mais adiante.

Mas, então, aproveitando para fazer um gancho com o Mundo dos Negócios: Este cenário de enganos e precipitações é a mesma coisa ocorre dentro das empresas. Volta-e-meia, há gestores de um setor opinando e intervindo em outros setores; há executivos ignorando estudos aprofundados de consultores especialistas; há profissionais vendendo informações pessimistas pelos corredores, como verdadeiros “Cavaleiros do Apocalipse”, quando, na verdade, não possuem informações o suficiente para terem correta compreensão das coisas…E assim vai…

Voltando a âmbito da nossa população, uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2015 relatou que a média de leitura do cidadão brasileiro é de 1,5 livro por ano. Sinceramente, acredito que este índice esteja errado e provavelmente seja bem mais baixo…mas…tudo bem. Que o mesmo esteja correto, mesmo. Ainda assim, este índice, então, é equivalente ao que eu leio a cada vinte dias; e falo mais, lendo aproximadamente cinco livros a cada três meses, me sinto frustrado por no momento não conseguir ter um desempenho melhor em meus estudos. E veja, mesmo o meu desempenho sendo 18 vezes maior do que a média da população, ainda assim não me sinto apto a tomar partido em assuntos como o da redução da maioridade penal e como em milhares de outros assuntos que estão no ar por aí. Então, o que dirá de alguém que mal lê um livro por ano e passa boa parte do tempo livre assistindo televisão – leia-se: novela –, malhando em academia, tomando cerveja e trocando mensagens em redes sociais. É de se pensar, não é mesmo?

“Abrindo um parêntese” em meio a essa minha narrativa, deixe eu abordar uma tática que julgo muito maliciosa, costumeiramente utilizadas em meio às discussões calorosas e que tende a ludibriar os desavisados (mal preparados): a tática de argumentar baseando-se em validades. Vejamos um exemplo de uso dessa tática: no âmbito da terceirização da mão-de-obra, há dados estatísticos que mostram que o trabalhador terceirizado trabalha mais (em horas) do que o trabalhador próprio. Até aí, tudo bem, sabe por quê? Porque este dado, na verdade, não nos diz nada, até que seja conciliado com diversos outros dados complementares de mercado. Não deveríamos concluir nada ainda, pois o dado é pobre. Mas eis que surgem as milhões de pessoas que nada entendem de estatística – nada mesmo –, dizendo que o trabalhador terceirizado é explorado. E para você ver: muitos lerão este parágrafo e se perguntarão: “ué, mas não é isso que o dado está dizendo”? Não, não é isso. Pensem…pensem…pesquisem…pesquisem…

Agora, vamos ainda mais a fundo: falaremos de PARTICIPAÇÃO SOCIAL, para você que ainda acha que realmente está inserido na teórica democracia que aprendemos nos livros da escola:

Vamos, de cara, falar de democracia em nações socialmente dividas (nosso país ainda não chegou lá, mas parece se esforçar de pouquinho a pouquinho para conseguir isso). O fato é que a existência de democracias estáveis em nações socialmente divididas, por si só, contraria o pressuposto pluralista, segundo o qual a estabilidade de regimes democráticos depende: de uma base cultural homogênea para assegurar tanto a manutenção das lealdades primárias dos cidadãos para com o Estado (e não a um grupo social qualquer), como um padrão associativo baseado em multifiliações individuais, e; de uma estrutura autônoma de papéis sociais para promover a dispersão das identidades coletivas e reforçar comportamentos políticos moderados. Você não entendeu nada do que falei, certo? Vejamos então:

No Brasil, somos ou não somos uma sociedade que carece de identidade única? Melhor perguntando: Temos foco coletivo para os mesmos interesses? Na verdade, as pessoas estão, em sua maioria, preocupadas com os interesses individuais, e terminam esquecendo a importância da ação coletiva para o bem de todos. Você talvez ache que não, mas vamos fazer uma comparação simples: compare nossa população com a população japonesa? De zero a dez, qual o nível de foco, comprometimento e respeito ao próximo encontra-se a população japonesa, e qual seria o nível sob o qual se localiza a população brasileira? Soma-se a isso o fato de os instrumentos de participação à disposição da sociedade (Conselhos, fóruns, etc.) são indiretamente utilizados como meios de legitimação das ações e medidas de alguns governantes, não para uma participação realmente ativa da população. Neste sentido, participação popular na esfera pública pode ser considerada uma ilusão ou mito, em que a sociedade é de certa forma manipulada ou exerce uma pseudo-participação na esfera pública.

Além de tudo: claro que a participação popular é – ou deveria ser – muito importante, porém algumas decisões de governo são estratégicas e essenciais, e, muito embora sejam tomadas para o bem comum, muitas vezes não agradam a coletividade como um todo. A política de segurança nacional e a política econômica são exemplos disso. Suas medidas precisam ser implementadas de forma técnica, sem grandes aberturas populares para debates e deliberações. Assim, é importante esclarecer que participação não significa transformar os governos em grandes arenas de debates constantes para a adoção de cada medida de governo, pois, afinal, os governantes são os representantes da sociedade.

E então, você questiona: eu voto, e, por isso, tendo a inserir no meio governamental os meus representantes, aqueles que conhecem e defendem minha comunidade. Ok. Então, vejamos um outro ponto:

Para que haja equilíbrio social, e, consequentemente, distribuição correta do poder, o essencial é que os membros da elite governante sejam aqueles que, além de serem membros natos da elite – qualidades superiores -, possuam características de personalidade adequadas para exercer o poder. No entanto, existem dois problemas básicos relativos ao equilíbrio social: primeiramente, considerar que a elite governante acaba sendo formada também por indivíduos agregados aos membros natos e acabam por representar uma ameaça à estabilidade da ordem, à medida que assumem os postos de comando sem disporem das qualidades requeridas para exercê-los (você lembra de alguém assim, no governo?). Em segundo, deve-se levar em consideração a necessidade da circulação de classes, ou seja, de os indivíduos da elite governante, com o tempo, serem substituídos por indivíduos ou classes recém-saídos(as) da elite não governante e/ou da não-elite e que lhe renovam as qualidades necessárias ao contínuo exercício da dominação; ao contrário, sem dar esse contínuo exercício da dominação – preste atenção nisso –, tais indivíduos acabam se acumulando nas classes inferiores e podem acabar liderando movimentos revolucionários contra a elite governante. Captou um pouco o espírito da coisa? Você acha que o teu representante irá defender os teus interesses, mas…sejamos sinceros…mal o síndico do teu condomínio faz isto por você. O que o teu representante político fará é não apenas tentar defender aquilo que ele acha que seja o certo, mas, principalmente, irá se adaptar à sistemática de relacionamento que já existe na esfera governamental, ou seja, “dançar conforme a música”. Não se iluda.

Falamos desses assuntos para reforçar o escopo principal deste artigo, qual seja: que não somos tão preparados assim para nos postarmos como os “donos da razão” e ridicularizarmos os opositores das nossas opiniões. Nosso condicionamento é tão forte, que mesmo que alguém prove pra gente que precisamos mudar nosso ponto de vista, ainda assim nossa mente induz a nos mantermos em nossa “zona do conhecido”, em vez de migrarmos para a “zona do novo, do diferente”. Façamos um teste:

Imagine que você esteja participando de um concurso na televisão. Você está no palco, de frente para três portas. Numa delas encontra-se um grande prêmio. Você precisa escolher uma das portas…e você escolhe, mas ainda não pode abri-la. O apresentador do concurso se direciona a uma das outras duas portas restantes e abre uma delas, na qual, é claro, não há nada. Inicialmente, pensando em três portas e um único prêmio, você concorda que as suas chances são de 1/3 (um terço). Após o apresentador ter eliminado uma das portas, restando apenas duas – a que você escolheu e a outra porta, ambas ainda fechadas –, você deduz que suas chances são, agora, de…1/2 (meio)…seria isto que você responderia, correto? Não. Errado. Suas chances permanecem em 1/3 (um terço). Mas como? Irei explicar logo abaixo, mas é possível que mesmo depois da explicação, você continue não concordando. E sabe por quê? Por causa do condicionamento. Vamos à explicação:

Este pequeno problema é muito mais difícil do que parece, e tornou-se famoso nos EUA como o problema de Monty Hall, devido ao apresentador que possuía um quadro bem similar em seu programa popular ‘Let’s Make a Deal’ [‘Vamos fazer um trato’] nos anos 70, algo como os diversos programas de auditório que ficaram famosos no Brasil com o apresentador Silvio Santos.

A resposta intuitiva – porém errada – ao problema é a de que quando o apresentador revelou uma porta não-premiada, o concorrente teria à frente um novo dilema com apenas duas portas e um prêmio, portanto as chances de que o prêmio esteja em qualquer uma das duas portas seriam de 50%. O apresentador teria nos ajudado, já que nossas chances subiram de 1/3 para 1/2, uma vez que ambas teriam as mesmas chances de possuírem o prêmio. Mas, realmente, a atitude de retirar uma das portas não faz diferença, já que a porta que o apresentador abre depende da porta que o concorrente escolher inicialmente. O apresentador sabe desde o começo onde está o prêmio (ele nunca abrirá uma porta premiada). Ao abrir uma porta, ele não está criando um jogo todo novo, mas está dando informações valiosas sobre o jogo original. É por isso que a resposta é tão contra intuitiva: parece-nos que o apresentador abriu uma porta aleatoriamente, mas isso está muito longe da verdade.

Voltando ao nosso dia-a-dia normal:

Certa vez fiz o seguinte exercício com um empresário: ele estava frustrado com o desempenho da sua equipe técnica. Pedi para ele me falar de cada um dos profissionais, tanto os bons, quanto os ruins. Ao final, identifiquei quatro integrantes que não tinham a menor condição de permanecer na equipe devido às suas limitações técnicas. Porém, o empresário julgava ser necessário mantê-los, já que estavam sempre à disposição para realizarem as tarefas. Mesmo que falhassem várias vezes, ainda assim a empresa poderia sempre contar com eles. Estranho este cenário? Que nada. Isto é mais comum do que imaginamos.

Bom, mas, voltando, direcionei este empresário para uma reflexão específica: pedi a ele que imaginasse naquele momento uma pessoa batendo a sua porta, dizendo estar desempregado e desejoso por trabalhar em sua empresa, e o melhor, demonstrando todas as qualificações técnicas que a empresa tanto precisa. Perguntei, então, a ele se desligaria um dos quatro profissionais ruins, substituindo-o por este candidato. A resposta foi sim. Daí o diálogo prosseguiu da seguinte maneira:

Eu: O que te impede de desligar um dos quatro profissionais, então, é o fato de neste exato momento não ter ninguém batendo a tua porta. E, entendido isso, faço uma pergunta: é possível encontrarmos um bom profissional no mercado, se formos atrás recrutar?

Empresário: “É possível, sim”.

Eu: Então, eu pergunto: por que motivo você ainda não foi atrás e continua a tolerar o desempenho ruim de alguns dos seus profissionais técnicos?

…Ele não soube responder de imediato, porque nessa hora geralmente as pessoas ficam sem ter uma resposta lógica. Elas percebem a falta de sentido em manter certas situações. E não pense que você não cairia no mesmo erro, pois isto não tem a ver com inteligência, mas condicionamento. O que vinha ocorrendo com este empresário era: a atitude sempre positiva, motivada e colaborativa de um ou mais profissionais ruins acabava por confundir sua mente, driblando sua capacidade de analisar a situação sobre a balança do Custo versus Benefício.

Não é fácil.

Há uma boa frase de René Descartes: “Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra”. Reflita sobre esta frase por alguns minutos…

Minha sugestão é para nos libertarmos deste desejo de estarmos sempre certos, principalmente, de resistir ao que incomoda só porque incomoda. Ao exercitarmos este tipo de desprendimento, nossos relacionamentos e tomada de decisão nos âmbitos social e empresarial tendem ao sucesso. É importante reconhecer que o conflito existente nos relacionamentos se deve principalmente ao fato de os seus conceitos adquiridos divergirem dos conceitos adquiridos pelos outros, tendo o Ego como o maior bloqueador para entender o posicionamento do próximo; é por este motivo que dou muita importância ao autoconhecimento. Reflita sobre isso; se for preciso, invista na reprogramação mental…e pratique mais a leitura.

Por admin